Des Peintures comme des Photographies
Maison Européenne de la Photographie, Paris
Até 14 de junho de 2015
Curadoria Jean-Luc Monterosso e Leonel Kaz
Fachada da Maison Européenne de la Photographie, no Marais, em Paris
Texto de Leonel Kaz na entrada da exposição
Vista da primeira sala
Entrada da terceira sala
Vista da terceira e última sala
Ateliê Georg Baselitz nº 1.
2015. Nanquim e óleo sobre papel. 152 x 112 cm
Ateliê Claude Monet nº 1.
2012. Nanquim e óleo sobre papel. 112 x 152 cm
Ateliê Benjamin
Johnston nº 1.2015. Nanquim e óleo sobre papel. 112 x 152 cm
Ateliê Paula Rêgo nº 1. 2013. Nanquim e óleo
sobre papel. 35 x 44 cm
Ateliê Richard
Serra nº 1. 2013. Nanquim e óleo sobre papel. 35 x 44 cm
Ateliê
Roy Lichtenstein nº 1. 2012. Nanquim e óleo sobre papel. 35 x 44 cm
Ateliê Anish
Kapoor nº 1. 2015. Nanquim e óleo sobre papel. 56 x 76 cm
Ateliê Lucian Freud. 2012. Nanquim e óleo sobre papel. 112 x 152 cm
Ateliê Ad Reinhardt nº 1. 2015. Nanquim e óleo sobre papel. 56 x 76 cm
Ateliê Lygia Clark nº 1. 2014. Nanquim e óleo
sobre papel. 56 x 76 cm
Ateliê Andy Warhol nº 2. 2013. Nanquim e óleo sobre papel. 56 x 76 cm
Ateliê Claude Monet nº 2. 2013. Nanquim e óleo sobre papel. 35 x 44 cm
Ateliê Renoir
nº 2. 2014. Nanquim e óleo sobre papel. 56 x 76 cm
Ateliê Rodin nº 2. 2012. Nanquim e óleo sobre papel. 56 x 76 cm
Ateliê Georgia
O'Keef nº 1. 2014. Nanquim e óleo sobre papel. 56 x 76 cm
Ateliê Van Dongen nº 1, 2013. Nanquim e óleo sobre papel. 35 x 44 cm
Ateliê Renoir nº 1. 2013. Nanquim e óleo sobre papel. 35 x 44 cm
Ateliê Irving
Penn nº 1. 2015. Nanquim e óleo sobre papel. 56 x 76 cm
"Luiz Mauro é um desses artistas raros que o acaso do Destino
o fez nascer em Goiânia, cidade próxima a Brasília. Lá é uma região de savana,
com cachoeiras, muitos minerais e a estranha sensação de que a abóboda do céu
está mais próxima a nós.
Luiz Mauro nasceu ali, como poderia ter nascido em Estocolmo ou em Melbourne.
Sua pintura não deita raízes em um território determinado. Ela á uma pintura
que fala do ato solitário de estar-no-mundo. É uma pintura que, apesar de sua
extraterritorialidade, apesar de estar em tempo nenhum, é de uma angustiosa
contemporaneidade.
Luiz Mauro é silencioso, de poucas palavras. Sua obra
expressa sua personalidade. Uma obra feita de camadas, de superposições de
tinta a óleo (começa-se sempre com o óleo diluído sobre o papel de algodão
espesso); depois, vem mais uma camada, e outra, e mais outra, no total de quase
30 dias que ficam se depositando sobre o papel, criando uma superfície quase
matéria, densa, profunda.
Luiz Mauro deita raízes em si mesmo. É dali que ele extrai o
que vê dentro dos ateliers de artistas. É verdade que sua obra baseia-se em
fotografias capturadas do mundo. Mas é na aparente escuridão dos ambientes, na
luz detalhada que emana de cada objeto,
no trabalho que parece ser fotografia mas não é, que parece ser gravura mas não
é, que o artista permite a si mesmo viajar seu extremo virtuosismo e sua emoção
no espaço do outro.
O sentimento que fica em quem olha a obra é a de que estas
pinturas sobre cartão ressoam palavras ditas, pinceis sujos de tinta, amores
ocultados – enfim, tudo o que se passou e ainda passa naqueles ateliers de
artista. As imagens pulsam não o passado, suas sombras, mas apenas a imagem do
artista que, temporariamente, largou o atelier com a luz acesa e foi, ali
perto, tomar um café."
Leonel Kaz
"LUIZ MAURO – ENTRE A ESCURIDÃO E A LUZ
O ateliê é assunto da série de trabalhos que o artista goiano Luiz Mauro
tem realizado nos últimos três anos. São obras que representam os locais de
produção de obras de arte, ambientes geralmente isolados tidos como mundos
particulares onde os artistas gestam, concebem e executam suas criações. Não é
o seu próprio ateliê que ele representa, mas sim ateliês de importantes artistas
da História da Arte Moderna e Contemporânea, cobrindo um arco de mais de um
século sobre a documentação fotográfica dos ateliês de artistas, iniciada no
século XIX durante o impressionismo.
O procedimento de trabalho de Luiz Mauro implica em pesquisa, arquivamento
e seleção de fotografias de ateliês, publicadas em diferentes veículos de
grande difusão como livros, revistas e internet. São imagens cujas autorias
geralmente não são mencionadas e que participam do circuito de arte como
instrumentos de divulgação e de fetichização dos artistas, alimentando a
curiosidade pública sobre a privacidade dos ateliês. Luiz Mauro seleciona
fotografias documentais dos espaços arrumados e vivenciados pelos artistas em
seus respectivos cotidianos: imagens reveladoras das particularidades da
arquitetura como mezanino, janelas, assoalhos;
que fixam as disposições dos mobiliários e imortalizam as posições de
objetos pessoais, de alguns instrumentos de trabalho e de modelos dispostos aqui
e ali; que registram obras em processo ou acumuladas contra a
parede ou displicentemente exibidas nos ateliês – fotografados sem as presenças dos artistas ou
de quaisquer outras pessoas. Existem apenas as evidências de pertencimento a
August Renoir, Claude Monet, Mark Rothko, Georgia Okeefe, Andy Warhol, Roy
Lichtenstein, Richard Serra, Van Dongen, Cy Twombly, Lucian Freud, Paula Rego,
Georg Baselitz e Lygia Clark. Restam somente seus vestígios filtrados pelos
olhares dos diferentes fotógrafos.
Na escolha das fotografias Luiz Mauro tem ainda como critério o alto
contraste e as manifestações plásticas da luz entre o preto e o branco. A
fotografia é imagem fixada pela luz. E é justamente a representação da luz que
interessa a Luiz Mauro ao realizar a transposição das imagens fotográficas para
outro suporte, com outros meios e com uma linguagem sem lugar que transita
entre desenho e pintura. A maioria das
imagens é reproduzida sem auxílio de projeção (somente agora, com o Ateliê de
Baselitz (2014), é que o artista passa a usar tal recurso), o que provoca
marcas singulares na interpretação formal dada à imagem apropriada:
teatralidade marcada pela perspectiva dos enquadramentos, pelo ritmo das linhas
que definem os espaços, pelas bordas escurecidas dos planos, pela oposição
marcada entre a escuridão e a luz que confere certa propriedade barroca às
obras – propriedade esta que não se encontra nas matrizes fotográficas.
Sobre o suporte o artista aplica disciplinadamente inúmeras e sucessivas
camadas de tintas de naturezas bastante diversas: primeiro a liquidez do
nanquim que estrutura o desenho e define as zonas de luz e sombra, depois a
densidade do óleo que satura o preto e marca o gesto do pintor na fatura da
obra. Associadas criam gamas de texturas delicadas, vastas nuances de cinza e
de preto que se aprofundam na escuridão mais completa. Parece que é sempre
noite tamanha a gravidade e a importância que o preto tem nos trabalhos,
enfatizando ainda mais o contraponto da luz que surge em meio à escuridão –
definindo o espaço – proveniente de fontes diferentes: filtrada por vidraças e
janelas, vazada por uma porta aberta ou irradiada de fontes artificiais que não
podem ser vistas. Como nas técnicas de nanquim e aquarela a claridade é obtida
pela alvura do suporte gradualmente preservada em áreas distintas da
representação.
Apesar de Luiz Mauro utilizar uma imagem de segunda geração fundada na
fotografia, o resultado de seu processo se revela, ao fim, em nada fotográfico.
São visíveis todos os embates com os meios bem como os procedimentos empregados
para a constituição das obras. Seu objetivo não é reproduzir literalmente a
fotografia e sim utilizá-la como matriz para a construção de uma obra que parte
do registro documental para atingir o estado poético repleto de melancolia, e
que exibe em si mesma seu modo de fatura cambiante entre desenho e pintura e
sua existência autônoma da fotografia. Penetrando nas trevas em busca da luz,
Luiz Mauro interioriza e subjetiva as imagens dos ateliês à procura da energia
criadora que se manifesta nesses espaços onde, solitariamente, os artistas
inventam e/ou refazem as representações de mundo."
Divino Sobral